Troca de experiências marca o 22º seminário técnico-científico Brasil-França

Postado em 13/07/2015

 

 Representantes de governo, academia e sociedade civil contribuíram para o debate em torno de temas como populações trans e sua vulnerabilidade para o HIV, durante o 22º seminário técnico-científico Brasil-França – que terminou nesta sexta-feira (10), em Brasília, para definir espaços de colaboração em pesquisa, apresentar os dados atuais das populações-chave para o HIV e discutir estratégias para a implementação da prevenção combinada nos dois países.
“Esta cooperação talvez seja a mais intensa e interessante que temos com um país desenvolvido durante tantos anos, com tanta constância e tantos resultados positivos”, disse Fábio Mesquita, diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde (DDAHV/MS), ao abrir o primeiro dia do evento, na última quinta-feira (09). 
O seminário marca os 25 anos da cooperação entre os dois países na resposta à aids, parceria que – iniciada em 1990 – reafirma o protagonismo dos dois países na agenda global de enfrentamento à aids. Entre os incontáveis resultados da cooperação está uma parcela da formação de 185 brasileiros – da academia e da sociedade civil –, que tiveram a oportunidade de visitar os serviços franceses, de estagiar naquele país em trabalhos de pesquisa e de, com isso, fazer avançar a luta contra a aids e hepatites virais no Brasil.
“Até 2011, realizamos também cinco grandes jornadas científicas e quatro simpósios temáticos a partir desta cooperação”, acrescentou Mesquita, garantindo que “este é um momento de celebração de um longo e intenso trabalho de parceria – que tem sido uma oportunidade para trocar, para aprender, para ensinar, e para avançar junto na luta contra a aids”. Segundo o diretor, os 21 seminários anteriores mostram que o evento é ocasião para, ano a ano, levantar temas, caminhos e problemas para o debate, compartilhando as boas experiências dos dois países.
“Eu sei que – pela 22ª vez – esta reunião será um grande sucesso”, disse, por seu turno, o diretor emérito de pesquisa do Inserm (sigla em francês para Instituto da Saúde e da Pesquisa Médica) e coordenador do programa de Pesquisa da Agência Nacional Francesa de Pesquisa em Aids (ARNS), Bernard Larouzé – que há anos dirige o trabalho de cooperação em várias frentes. Para Larouzé, a cooperação da França com o Brasil evoluiu para uma parceria. “Isso é um grande prazer para nós”, reiterou.
De acordo com Larouzé, este 22º encontro será crucial para debater o importante papel da sociedade civil no enfrentamento à aids; as perspectivas para o futuro; as estratégias de prevenção e as pesquisas que serão necessárias, no Brasil e na França, para subsidiá-las.
Durante a abertura do seminário, Fábio Mesquita e o secretário de Vigilância em Saúde do MS prestaram uma homenagem a Larouzé – que, em 1989, integrou a primeira missão francesa ao Brasil: ao lado de Lair Guerra, primeira diretora do então Programa Nacional de Aids, Larouzé delineou as bases da cooperação entre os dois países. Larouzé se disse muito emocionado e surpreso diante da homenagem. “Parabéns e muito, muito obrigado, porque essa parceria entre o Brasil e a França dependeu muito de você”, afirmou Mesquita durante a homenagem. 
Larouzé deixa a coordenação da cooperação em pesquisa entre o DDDAHV e a ANRS, sendo agora substituído por Nathalie de Castro.
A assessora especial para Assuntos Internacionais de Saúde do MS, Juliana Vallini, afirmou que esta cooperação é “diferente”: “Ela é um exemplo de boa prática, de sucesso e de permanência em alto nível, sem perder a credibilidade ou o entusiasmo das partes para a sua execução”. Segundo Juliana, é raro observar – em uma cooperação entre país desenvolvido e em desenvolvimento – a constância na qualidade que marca esta parceria específica entre Brasil e França ao longo de 25 anos.
O primeiro dia transcorreu em torno de debate sobre a situação atual das populações de homens que fazem sexo com homens (HSH) e trans em relação ao HIV; da contribuição dos ensaios de prevenção; da contribuição das ciências humanas e sociais ao enfrentamento à aids; da resposta em termos de políticas públicas para as populações, trans, HSH e profissionais do sexo; e mobilização comunitária.
Ao fechar o primeiro dia do seminário, a diretora-adjunta do DDAHV, Adele Benzaken, fez um balanço do dia e ressaltou as semelhanças entre o Brasil e França no campo do HIV/aids: acesso universal ao tratamento; ineditismo nas ações em “tratamento como prevenção” (treatment as prevention, ou TasP); prevenção combinada,  principalmente quanto às pesquisas em profilaxia pré-exposição (PREP) e o desafio de implementá-la como política pública; mobilização comunitária e importância dada ao engajamento da sociedade civil, incluindo a ampliação da testagem de populações-chave; e o aprendizado com abordagens socioculturais para enfrentar a epidemia nestes grupos.
“Hoje, tivemos uma pequena amostra das trocas possíveis entre nossos países – e esperamos que esses dois dias venham fortalecer ainda mais essa cooperação”, disse a diretora, lembrando a Reunião de Alto Nível que será realizada entre Brasil e França nos próximos dias 23 e 24 de julho, em Brasília. “Na ocasião, serão apresentadas as boas práticas e os números relevantes dessa cooperação em HIV/aids e hepatites virais, além da retomada do eixo das pesquisas – que  possibilita a participação das instituições de pesquisa brasileiras nas redes internacionais e sua inserção na ponta do conhecimento em HIV/aids e hepatites”, observou.
Já na sexta-feira (10), o debate foi temático, focado no Programa de Pesquisa ANRS. O assunto principal foi a implementação das Estratégias de Prevenção Combinada do HIV. Ambos os países adotam protocolos avançados que preveem o tratamento das pessoas vivendo com o HIV assim que estas são diagnosticadas.
Participaram do encontro representantes dos governos do Brasil e da França, além de pesquisadores, representantes da sociedade civil e especialistas brasileiros e franceses.
 

 

Fonte : Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais